Provocando o infinito

Provocando o infinito

autorretratos do novo mundo

Trabalho iniciado em 2007 é uma instalação que engloba: 12 pinturas em formatos variados, reprodução de 4 textos científicos, 2 monocromos em tecido.

Proponho o projeto sobre quatro obras etnográficas de Albert Eckhout. São autorretratos: Autorretrato com Índia Tarairiu, Autorretrato com Theo e Negra, Autorretrato com Isadora e Índia Tupi e Autorretrato com filhos e Mameluca. Aproveitando o tom classificatório do bestiário humano proposto pelas pinturas, as quais falam mais da dominação holandesa no Brasil do que do próprio Brasil, produzo autorretratos incluindo meu universo íntimo, como mulher, mãe e artista. Uma proposta que trata de forma direta da história real da mulher brasileira. Trata-se da relação entre o mapeamento etnográfico pintado por um viajante estrangeiro para apresentar à corte holandesa e as pinturas contemporâneas que são o mapeamento afetivo e íntimo de uma artista do Brasil que, ao se colocar no lugar das figuras femininas retratadas, assume a porção mestiça brasileira, em que todos são um pouco índios e negros, e com essa sobreposição de significados, estereótipos e tempos proporciona um encontro com a pintura desse país.

O primeiro núcleo cultural brasileiro que se assemelhou a uma corte europeia foi fundado em Recife, em 1637, pelo conde holandês Maurício de Nassau que trouxe uma comitiva de cientistas, humanistas e artistas que produziram uma brilhante cultura profana no local. Sua presença resultou na elaboração, pelo homem branco nos trópicos, de um trabalho cultural sem paralelos em seu tempo e muito superior ao que vinha sendo realizado pelos portugueses. Seu lema “até onde o mundo alcança” mostra a extensão de sua curiosidade e intenção. Na comitiva de Nassau, estava Albert Eckhout (1610-1666), dividindo com Frans Post e Georg Marcgraf a tarefa de documentar a paisagem, a vida e os costumes dos índios e escravos. Entre seus oito clássicos e emblemáticos retratos etnográficos, Eckhout visou apresentar as mulheres do Novo Mundo: Mulher Tupi, Mulher Mameluca, Mulher Tapuia e Mulher Negra. A extensa pesquisa que se fez dessas obras gerou um rico e complexo conjunto de interpretações. Hoje se sabe que uma intrincada relação entre ideal e realidade deu origem a essas pinturas. Toda essa gênese das pinturas de Albert E., sua relação com a pintura brasileira e o gráfico hierárquico de civilidade dos habitantes do Novo Mundo que traçavam – na base menos civilizada estavam os índios canibais Tapuia, depois os Tupi e os Negros; no topo estavam o Mestiço e a Mameluca – além de diversos outros detalhes simbólicos internos e externos às pinturas, levaram-me a criar uma relação afetiva, como brasileira, com as imagens.

A proposta trata da história verídica e inventada da mulher brasileira, da relação entre o mapeamento etnográfico do gênero feminino pintado por um viajante estrangeiro e as pinturas contemporâneas que são o mapeamento afetivo e íntimo de uma jovem artista. O conceito de diluição é pertinente para essa afetiva relação, se pensarmos que as imagens das quatro mulheres propostas por Albert E. são realmente diluídas nas apropriações das minhas pinturas, ressignificadas com novas simbologias, novos ares de um “novo mundo”. A presença das crianças nas pinturas de Eckhout, seja como filhos em primeiro plano ou na fazenda, no panorama, trouxe para mim um elo entre o “presente” e o “futuro” da formação do povo brasileiro; a mãe como figura feminina principal em duas das pinturas históricas traz uma conexão afetiva muito intensa, que encarnei em minhas pinturas, apresentando meus filhos, brasileiros recentemente gerados.

As viagens ao Novo Mundo são histórias intrínsecas à realidade dos brasileiros. Nós somos parte do Novo Mundo que foi encontrado e ao mesmo tempo o perdemos para sempre. Assim, surge um outro encontro impossível: entre as pinturas de um jovem artista que viajava em um proposto e suposto Novo Mundo e as pinturas que retratam o mundo contemporâneo, feitas por uma jovem artista brasileira.

provocando o infinito

Coleção de tigelas utilizadas para limpar pincéis sujos de tinta, quebradas ao meio.

Um dia, uma das tigelas que eu utilizava para limpar pincéis, que já estava com sua água totalmente seca, caiu no chão e se partiu em duas metades quase iguais. Esse acontecimento fez com que eu reparasse no lindo desenho de camadas que a decantação do pigmento com a água misturada à tinta faz. Cria aquarelas, veladuras de tempo. A partir daí, comecei a colecionar e provocar essas decantações em diversas tigelas e parti-las ao meio. Posicionei-as em série, gerando uma longa coluna vertebral e intitulei o trabalho de Provocando o infinito.

infinitos de cor

Os Infinitos foram expostos pela primeira vez na exposição “Provocando o Infinito” que fiz no espaço cultural da Mannesmann, em Belo Horizonte. Pinturas, objetos e fotografias formavam o conjunto. 

As ampulhetas são antigos medidores do tempo, um tempo que se mede com o fluxo da matéria de um espaço para outro. A forma do objeto ampulheta é semelhante ao infinito. 

Quando colocada horizontalmente na paisagem, a ampulheta cristaliza esse fluxo, esse tempo que para de escoar. 

Quando colocada em caixas com pigmentos, as cores entram em diálogo formando um ritmo. Infinitos eternizados. A pergunta se seria possível eternizar algo ou alguém por meio da imagem continua em fluxo.

As 9 caixas são de madeira mogno, com vidro, pigmentos, e ampulhetas

36x36x10cm o conjunto das 9 caixas (2014)

infinitos de cor entrelaçados

Os Infinitos entrelaçados são esses mesmos infinitos de cor em uma dança ou abraço. Sua configuração é múltipla e pode variar, como em um jogo de cores. Um infinito sustenta o outro. Os conjuntos têm geralmente têm 13x13x13cm, mas variam de acordo com a dimensão das ampulhetas. (2014)

jardins de mão

Os jardins de mão são caixas manuseáveis com pequenas composições em seu interior. As composições variam de acordo com as mudanças de luz através de um ponto fixo proporcionado por uma lente, como caleidoscópios.

Do pequeno quadrado da tela: o jardim
As pinturas e os objetos de Leonora Weissmann abrigam o encanto do artifício, de onde surgem, pelo efeito do pincel, das lentes e do espelho, a magia das imagens desdobradas, repetidas, desfocadas. A poética dos reflexos traz-nos pela possibilidade de inversão e rebatimento das imagens uma ordem labiríntica, o equívoco do princípio e do fim, transformando o determinado em indeterminado.
É essa poética que permite Leonora sustentar em sua pesquisa os cenários-miragens, “os espaços vagamente delimitados”. Daisy turrer. (2006)

Pinturas