
Adentro Floresta Afora
“No que há de comum entre todas as coisas, reside a poesia. É por ela que nas coisas lúcidas podemos vislumbrar o mistério. É ao lugar do mistério que Leonora conduz nosso olhar: ao jardim de coisas e sentimentos experimentados e vividos por ela, os quais ela tenta nos desvendar, nos fazer conhecer. Dessa forma, creio, o banal converte-se no estranho. Não que ele o seja: pelos nossos olhos, pelo fazer e urdimento da arte, assim se apresenta. Tornamos pessoas, coisas, objetos, assim, estranhamente humanos. Criador e criatura. É esta afinidade que a floresta de sentidos proposta nestes quadros, permeável ao olhar de quem a contempla, permite-nos. Arrastamo-nos para dentro da cena e, adentro, floresta afora, seguimos um caminho estreito, enveredamo-nos por trilhas que nos conduzem aos sentidos que ali se fazem visíveis. Diante dessas pessoas, dessas paisagens, desses lugares, ficamos, com se fôssemos o cão – o inseparável amigo – que desde sempre veio, de outras grutas, de outros quadros, e que ali está de volta, reiterando-nos a história do homem e da arte.”
Francisco Magalhães, 2013